«Pamploneses! Pamplonesas! Viva San Fermín! Gora San Fermín!»
6 Julho – 12h00 em ponto – Varanda do Palácio Consistorial (sede do Ayuntamiento) com estes dizeres é lançado o foguete que assinala o início das festividades… o txupinazo (em basco) segundo é conhecido!
É o delírio nas hostes!!! COMEÇOU!!! A multidão que se apinha na praça do município (os que vão cedo – MUITO cedo) vestida a rigor – pamplonica: camisa e calças/saia branca com lenço vermelho e faixa cintura vermelha – não defrauda os que demais acompanham o espectáculo pela televisão. A praça (e todas as ruas adjacentes) está coberta de branco e vermelho! Os lenços que estavam guardados no bolso ou atados no pulso são colocados no ar… um mar vermelho estende-se até onde os olhos alcançam! Finalmente o lenço é colocado ao pescoço e daí só será tirado no dia 14 enquanto entoam «Pobre de Mí»
A cidade de Pamplona prepara-se para aquela que é uma das festas mais conhecidas a nível mundial… São 9 dias onde tudo passa para segundo plano, de 6 a 14 julho os pamploneses e os milhares de turistas que a visitam só ali estão para uma coisa: os Encierros!
Falar de San Fermin e não falar de encierros é como ir a Roma e não ver o Papa… São o ponto alto das festas. Todos os dias às 8h em ponto, hora local como é lógico, de novo um foguete (e posso-vos dizer que a pontualidade é britânica!) assinala a abertura do portão para uma das “corridas” mais puras, frenéticas, intensas e perigosas.
Mas vamos por partes. Na noite anterior ocorre o encierrillo (por norma algo mais recatado e distante dos olhares dos demais) que é o transladar dos toiros, que vão ser corridos, do campo para o curral de Santo Domingo de onde sai o encierro pernoitando já com os cabrestos prontos para a manhã de emoções fortes. Tudo isto é feito em clima de completa serenidade e silêncio, apenas disponível para alguns felizardos, longe do turbilhão que vai acontecer no outro dia. Aqui respeita-se! E muito!
Na manhã seguinte os corredores, os curiosos, os transeuntes vão se acumulando nas calles num ritual que já dura há séculos! Na Cuesta de Santo Domingo os corredores amontoam-se perante a pequena estátua de San Fermin e cantam 3 vezes “A San Fermín pedimos…”, pedindo protecção, já que contas feitas por alto a 6 toiros bem crescidos, estamos a falar de 3 toneladas a correr pelas calles (fora os cabrestos). Para cerca de 900 mts de extensão desde o seu começo até à Praça de Touros onde os toiros são recolhidos para as lides da tarde.
Nunca vi algo remotamente parecido com isto, as ruas apinhadas de corredores (2000-2500 por cada encierro), uns mais temerosos outros mais corajosos, mas conscientes dos perigos que os podem esperar, sim digo esperar, porque nos 3 min. de tempo médio que pode decorrer um encierro normal, também os há que correm mal, entre cornadas fatais, cornadas que deixam marcas para a vida, histórias de quase encontrar o “Criador”, aquela fracção de segundo entre passar um “piton” de um bichinho de mais de 500kg e ficarem em segurança!
Chegada à Praça, recolher os toiros e alguns minutos depois, assiste-se a outro espectáculo com a largada de algumas vaquillas para o divertimento geral, não só dos toreros incautos como para o público que se deslocou à praça para ver a chegada dos outros “bichos”. Ajoelhados /deitados na porta de saída, a vaquilla não tem outro remédio que não seja saltar por cima dos mesmos… E começa o “bowling”… Gargalhada certa! Mas que não se pense que não há regras a cumprir! Nada de agarrar ou molestar em demasia o animal, algo que é logo relembrado pelo coiro de assobios vindos da bancada ou de um “punhetazo” de alguém mais antigo. E situações recorrentes são logo convidados a sair pela polícia antes que a coisa azede. Lá está… aqui o respeito é muito!!!
Claro que San Fermin não é apenas e só encierros e touradas. Também tem a sua componente religiosa e popular, bastante patente durante os dias todos das festas.. Existem vários espectáculos e actividades a decorrer durante o dia, os músicos das várias peñas distribuídas pela cidade animam as calles e os que por lá passam. Os gigantones e cabeçudos que fazem vários desfiles durante os dias da Festa. E claro está não podia faltar o fogo de artifício todos os dias à noite, onde no parque que envolve a cidade, a relva fica “pintada” de branco, vermelho, sacos plásticos – botellons, pamploneses, turistas completamente mergulhados no espectáculo de 10-15 min nos céus!
9 dias depois, chegamos ao fim. 14 julho às 23h59 a Praça do Ayuntamiento enche-se de novo! O semblante das pessoas é perceptível, acabou-se… os lenços são retirados ao som de:
«Pobre de Mí, Pobre de Mí, que se han acabado las fiestas, de San Fermín»
ps – “pobre de mí” que não sei quando lá voltarei… mas irei lá voltar de certeza!!!
Para mais informações consultem: www.sanfermin.com