Imortal…

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Carro preto John Player Special pilotado por um “gajo” de capacete amarelo…

É assim a minha 1ª memória de Ayrton Senna da Silva. Estávamos no ano de 1985, Grande Prémio de Portugal no autódromo do Estoril a 21 de Abril. Eu com os meus tenrinhos 8 anos de idade, completamente hipnotizado em frente à televisão sintonizada na RTP 1, num domingo como qualquer outro, preparadíssimo para almoçar na casa da minha avó.

Agora uma ressalva para os mais novos, sim juventude, a F1 chegou a passar em canal aberto! E pasmem-se… todos os “santos domingos” quase sempre à hora de almoço, excepção feita aos GP’s do Japão e Austrália que devido ao fuso horário eram transmitidos de madrugada!

Voltando a esse domingo, “jingle” da Eurovisão passado… (para quem não sabe do que estou a falar: https://www.youtube.com/watch?v=NG9P3BbiJPI) e lá estamos nós em directo em pleno autódromo “a chover a potes” e salta à vista desde logo um carro preto com letras douradas JOHN PLAYER SPECIAL (aos 8 anos sabia lá o que era um LOTUS…)

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Saída da pole position, algo a que nos habituou posteriormente, quem não se recorda das suas voltas kamikaze nos minutos finais de cada qualificação… o vai ou racha!

A chuva?!?! Essa não parava.. Fiel ao provérbio “Em Abril, águas mil”, o Estoril estava transformado em autêntico dilúvio. E no entanto UM piloto destacava-se dos demais.. como era possível naquelas condições alguém fazer o que Senna estava a fazer?! Volta após volta, ultrapassagem após ultrapassagem, Senna “voava” naquele circuito, ao ponto de ter dado, pelo menos, uma volta de avanço, praticamente a todos os concorrentes que acabaram a prova, exceptuando ao 2º lugar.

Impossível, pensarão vocês?! Para Senna não, à chuva era pura e simplesmente GENIAL! GP com chuva era quase sempre sinónimo de vitória!

E o que dizer do Mónaco?! O seu GP de eleição… por 6 vezes o venceu! Um recorde que ainda perdura nos dias de hoje. As ruas pareciam talhadas para a sua condução, a margem de erro essa era mínima, para não dizer ínfima, Senna que o diga, nesta altura já ao volante de um McLaren-Honda, em 1988 com mais de 15’’ de vantagem sobre o seu companheiro de equipa Alain Prost e numa tentativa de afirmação de força, de “humilhação” sobre o anterior nº1 mundial, perde o controle do carro e compromete a sua vitória, seria a sua 2ª vitória consecutiva no Mónaco. Nos anos seguintes não deixou margem para dúvidas, 5 vitórias consecutivas!

1992 Monaco Grand Prix. Monte Carlo, Monaco. 28-31 May 1992. Ayrton Senna (McLaren MP4/7A Honda) 1st position with Nigel Mansell (Williams FW14B Renault) 2nd position close behind, trying to pass in the last few laps of the race. Ref-92 MON 22. World Copyright - LAT Photographic

Nas ruas do Mónaco o McLaren-Honda era rei e senhor.. Senna um Deus!!

3 Campeonatos mundiais depois com  a McLaren, Senna muda-se em 1994 para aquela que viria a ser a sua última escuderia, a Williams-Renault, escuderia que dominava na altura com Nigel Mansell (1992) e após o abandono do britânico, Alain Prost (1993). A sucessão lógica era Senna… no melhor carro o melhor piloto!

Coincidências/curiosidades à parte ou não, no mesmo ano que Prost se retira e Senna ingressa na Williams, a FIA bane as ajudas electrónicas que tornavam o carro da escuderia britânica quase imbatível. Resultado?! Senna entra no campeonato mundial de 1994 com um carro desvirtuado.

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GP San Marino – Imola 1994

Acreditando-se ou não em espiritualidades, divindades ou afins, este fim de semana ficará para sempre marcado na história da F1, foram sinais atrás de sinais, algo que todos viam mas ninguém fez nada.

O aparatoso acidente de Barrichello na qualificação a mais de 220km/h fazendo-o voar sobre a barreira; a morte de Ratzenberger nos treinos livres embatendo a mais de 300 km/h!! num muro de protecção; na largada do GP J.J. Letho não consegue arrancar com o seu carro e o nosso português P. Lamy embate violentamente na sua traseira projectando pneus e destroços para a bancada ferindo alguns espectadores, na box um pneu salta fora de um carro ferindo mecânicos da Ferrari e Lotus, a Lei de Murphy a funcionar da pior maneira!! E o pior ainda estava para vir…

Não bastando já a morte de um piloto (e o porquê de não terem cancelado o GP?!? Dinheiro, sempre o dinheiro…) e tudo o que aconteceu, o GP lá continuou, saída do pace car da pista e Senna acelera para aquela que seria a última corrida da sua vida, sétima volta, curva Tamburello, saída a direito e consequente despiste violento, segundo dizem a mais de 200 km/h. Falta de sorte dizem uns, fatalidade dizem outros… 

Nesse domingo lembro-me perfeitamente de pensar, vou desligar a televisão, incrédulo com o que tinha acabado de acontecer, ainda a tentar perceber o porquê, logo a ele?!?!

Carreguei no botão do comando como se fosse um reset que fazemos na playstation, na esperança de que tudo voltasse atrás e nada tinha acontecido de mal, desliguei a televisão convicto de que jamais voltaria a olhar para a F1 como a via… e assim aconteceu! Com 17 anos vi em directo e a cores à morte de um dos meus ídolos no desporto!

1 Maio de 1994 – 14h17 o dia/hora em que desapareceu o MELHOR piloto de F1 que tive o prazer de ver… o dia em que deixei de acompanhar a F1 com a paixão que a caracterizava… Morreu o Homem, mas nasceu a Lenda!

Até sempre AYRTON SENNA do BRASIL.

1990: Portrait of McLaren Honda driver Ayrton Senna of Brazil before the Japanese Grand Prix at the Suzuka circuit in Japan. Senna retired from the race after a collision with Fiat Ferrari driver Alain Prost of France. Mandatory Credit: Pascal Rondeau/Allsport

A quem se sentir interessado que pesquise pelo documentário SENNA de 2010, um relato sobre a carreira do piloto, onde podemos perceber um pouco do que é a “política e o dinheiro” envolvidos numa grande competição como é a F1. Recomendo vivamente!

goncalo.sousa@theBblog.com

Ps – todas as imagens são © de autor não identificado pois foram retiradas da net para este efeito (desde já as minhas desculpas)

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Comments (4)

Parabéns pelo belíssimo texto ! Sentimentos que muitos da nossa geração partilham certamente !

Obrigado pelo comentário Tiago. Sentimentos de quem “perdeu” mtas horas em frente a uma TV a ver F1 a sério (naquela altura ainda se praticava disso..)

Continue a acompanhar-nos! partilhe.. divulgue! um abraço!

Dificil não acompanhar este blog. A forma pessoal como abordam os assuntos é de facto uma lufada de ar fresco na blogosfera, principalmente escrita por homens! Muitos parabens por mais um belissimo post.
PS: falem de voçes, nos gostamos disso!!!

Obrigado pelo comentário, tentamos fazer por isso! De certeza que mais experiências irão ser “contadas/escritas”.

Continue a acompanhar-nos! partilhe.. divulgue!

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